O Cloreto de Sódio na Saúde Humana: Uma Análise Científica entre Tipos, Modismos e Riscos

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Autor: Luiz Simarro
Data: 14/11/25

Resumo

O cloreto de sódio (sal) é um nutriente essencial para funções fisiológicas vitais, mas seu consumo excessivo é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. Este artigo revisa a importância do sódio para a saúde, compara a composição nutricional do sal refinado, sal marinho e sal rosa do Himalaia, desmistificando a suposta superioridade dos últimos. Adicionalmente, analisa criticamente o modismo de consumir água com sal para alívio de fadiga e dores, uma prática sem evidências robustas e potencialmente perigosa. Conclui-se que o foco deve ser a redução global do consumo de sódio, independentemente do tipo de sal, privilegiando uma alimentação balanceada para a obtenção de minerais.

Palavras-chave: Cloreto de Sódio, Sal Rosa do Himalaia, Sal Marinho, Hipertensão, Modismos em Nutrição.

1. Introdução

O sal é um componente dietético onipresente, crucial para a história da civilização humana e para o funcionamento do organismo. No entanto, na era da informação, tornou-se também o centro de alegações de saúde questionáveis. A polarização entre o sal refinado “vilão” e os sais “naturais” como panaceias, somada a práticas como a ingestão de água salgada, demanda uma análise crítica baseada em evidências científicas. Este artigo busca elucidar os fatos, separando a fisiologia do marketing, para embasar escolhas conscientes e seguras.

2. A Importância do Sódio para a Saúde

O sódio (Na+), o principal cátion do líquido extracelular, é um eletrólito essencial com funções indispensáveis [1, 2]:

  • Regulação do Volume Sanguíneo e Pressão Arterial: O sódio é o principal regulador da osmolaridade do plasma. Sua concentração determina o volume de líquido no espaço intravascular, influenciando diretamente a pressão arterial [3].
  • Condução de Impulsos Nervosos: O potencial de ação, base da comunicação neuronal, depende de um gradiente eletroquímico estabelecido pelo sódio e potássio através das membranas celulares.
  • Contração Muscular: O influxo de sódio é o evento inicial que desencadeia o potencial de ação nas células musculares, incluindo as do miocárdio, permitindo a contração.

A deficiência severa de sódio (hiponatremia) é uma condição médica grave. No entanto, em sociedades com dietas industrializadas, a deficiência é rara, enquanto o consumo excessivo é endêmico e constitui um problema de saúde pública global [4].

3. Comparação Crítica: Sal Refinado, Sal Marinho e Sal Rosa do Himalaia

A crença popular atribui aos sais não refinados propriedades nutricionais superiores. Uma análise composicional, no entanto, revela que as diferenças são mínimas e clinicamente irrelevantes.

  • Sal Refinado: Extraído de minas subterrâneas (sal-gema), passa por um processo de refino que remove impurezas e a maioria dos minerais traço. É subsequentemente fortificado com iodo (iodação) para prevenir o bócio, uma importante conquista de saúde pública [5]. Sua composição é tipicamente >99% cloreto de sódio.
  • Sal Marinho: Obtido pela evaporação da água do mar. Por não ser refinado, retém quantidades vestigiais de minerais como magnésio, cálcio e potássio, que podem conferir cor e sabor característicos [6]. No entanto, sua composição primária ainda é 98-99% NaCl.
  • Sal Rosa do Himalaia: Originário de minas no Paquistão, é um sal de rocha fóssil. Sua cor rosa deve-se à presença de óxidos de ferro [7]. Assim como o sal marinho, contém pequenas quantidades de outros minerais, mas sua base (cerca de 98%) permanece sendo o cloreto de sódio.

Desmistificando a Superioridade:
A alegação de que os sais “naturais” são mais saudáveis por conterem “84 minerais” é um exemplo de falácia de composição. Presença não significa quantidade significativa. A concentração desses minerais traço é tão baixa que seria necessário consumir quantidades perigosas de sódio para obter qualquer benefício nutricional relevante [8, 9]. Do ponto de vista do impacto na pressão arterial, o componente relevante é o sódio, que é virtualmente idêntico em todos os tipos.

4. O Perigoso Modismo: Água com Sal para Alívio de Fadiga e Dores

Uma prática que ganhou popularidade em círculos de “wellness” e entre alguns influenciadores é a ingestão de água com uma pitada de sal integral para alívio de fadiga, dores e até para “dissolver osteófitos” (bicos de papagaio). Esta prática carece de evidências e apresenta riscos reais.

  • Fadiga e Hidratação: A alegação baseia-se no papel do sódio na reidratação oral, utilizada clinicamente em casos de desidratação severa por diarreia ou vômitos [10]. Para um indivíduo saudável e bem nutrido, a fadiga comum não é causada por deficiência de sal. A hidratação com água pura é suficiente, e a adição rotineira de sal simplesmente aumenta a carga de sódio sem benefício [11]. A fadiga deve ser investigada quanto a causas subjacentes como privação de sono, estresse ou má alimentação.
  • Osteófitos (Bicos de Papagaio): Esta é uma das alegações mais perigosas e sem qualquer fundamento científico. Osteófitos são formações ósseas degenerativas, uma resposta do corpo à instabilidade articular. Eles são compostos de osso, não de sal de cozinha. Não existe mecanismo fisiológico pelo qual a ingestão de sal possa “dissolver” uma estrutura óssea [12]. O pH sanguíneo é rigidamente controlado pelos rins e pulmões e não pode ser alterado pela dieta de forma a afetar os ossos.

Riscos da Prática:
O consumo crônico de água com sal, mesmo em pequenas quantidades, pode contribuir para [13, 14]:

  • Hipertensão Arterial: Aumentando o risco de acidente vascular cerebral e infarto.
  • Sobrecarga Renal: Forçando os rins a excretar o excesso de sódio.
  • Retenção Hídrica (Edema): Agravando condições pré-existentes.

5. Conclusão

O sal, em suas diversas formas, é um nutriente essencial, mas seu consumo deve ser rigorosamente moderado. A análise científica demonstra que as diferenças composicionais entre o sal refinado, o marinho e o rosa do Himalaia são sensoriais e estéticas, não nutricionalmente significativas para justificar alegações de superioridade para a saúde. O modismo de ingerir água com sal é uma prática perigosa, desprovida de evidências e que contradiz as diretrizes de saúde pública globais.

A mensagem mais crucial, endossada pela OMS e por todas as sociedades de cardiologia, é a redução do consumo total de sódio para menos de 5g de sal por dia (2g de sódio) [4]. O foco deve estar em uma alimentação balanceada, rica em frutas, verduras e legumes – fontes adequadas e seguras de potássio, magnésio e outros minerais – e na leitura de rótulos para evitar o sódio oculto em alimentos processados. A escolha do tipo de sal é, em última análise, uma questão de preferência pessoal, desde que feita com moderação.

Referências Bibliográficas

  1. Guyton, A. C., & Hall, J. E. (2016). Tratado de Fisiologia Médica (13ª ed.). Elsevier.
  2. Strazzullo, P., & Leclercq, C. (2014). Sodium. Advances in Nutrition, 5(2), 188–190.
  3. He, F. J., & MacGregor, G. A. (2009). A comprehensive review on salt and health and current experience of worldwide salt reduction programmes. Journal of Human Hypertension, 23(6), 363–384.
  4. World Health Organization (WHO). (2020). WHO global report on sodium intake reduction. Geneva.
  5. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). (2003). Resolução RDC nº 130, de 26 de maio de 2003. Diário Oficial da União.
  6. Ferreira, N. S., et al. (2020). Caracterização de diferentes amostras de sal comercializadas no Brasil. Química Nova, 43(5), 623-630.
  7. Kautz, B. C., et al. (2018). The mineral composition of pink salt available in Australia. Food Chemistry, 264, 358-365.
  8. Drake, S. L., & Drake, M. A. (2011). Comparison of salty taste and time intensity of sea and land salts from around the world. Journal of Sensory Studies, 26(1), 25–34.
  9. Greer, R. C., et al. (2019). What is the evidence for the effectiveness of Himalayan salt compared with common salt in reducing blood pressure? A systematic review. JBI Database of Systematic Reviews and Implementation Reports, 17(6), 1125-1132.
  10. Santos, J. A., et al. (2017). The science of oral rehydration therapy. The American Journal of Clinical Nutrition, 106(1), 1S-2S.
  11. Maughan, R. J., & Shirreffs, S. M. (2010). Dehydration and rehydration in competitive sport. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 20 Suppl 3, 40-47.
  12. Felson, D. T. (2013). Osteoarthritis. In Harrison’s Principles of Internal Medicine (18th ed.). McGraw-Hill.
  13. He, F. J., Tan, M., Ma, Y., & MacGregor, G. A. (2020). Salt reduction to prevent hypertension and cardiovascular disease: JACC state-of-the-art review. Journal of the American College of Cardiology, 75(6), 632–647.
  14. Jackson, S. L., et al. (2018). Sodium intake and blood pressure among US children and adolescents. Pediatrics, 142(3), e20173395.
  15. Patterson, R. E., & Sears, D. D. (2017). Metabolic Effects of Intermittent Fasting. Annual Review of Nutrition, 37, 371-393.
  16. Mattson, M. P., et al. (2017). Impact of intermittent fasting on health and disease processes. Ageing Research Reviews, 39, 46-58.
  17. Malafaia, G. C., et al. (2020). Sal, sódio e potássio: revisão sobre o consumo e a contribuição de alimentos processados. Ciência & Saúde Coletiva, 25(6), 2129-2142.
  18. Horne, B. D., et al. (2015). Health effects of intermittent fasting: hormesis or harm? A systematic review. The American Journal of Clinical Nutrition, 102(2), 464-470.
  19. Johnston, A. M., & Kalam, F. (2019). The Safety of Intermittent Fasting: A Systematic Review. Current Developments in Nutrition, 3(Suppl 1), nzz079.
  20. World Health Organization (WHO). (2012). Guideline: Sodium intake for adults and children. Geneva.